robôs e androides
A robótica já era bem desenvolvida nas primeiras décadas do século XXI, porém a crise econômica e política daqueles anos atrasou seu progresso no Ocidente. Isso permitiu que nações como Japão e Coreia do Sul se tornassem a vanguarda absoluta nessa área. O próprio Adrian Ogunleyé passou vários anos trabalhando e estudando no Japão – onde ele se casou com Miyamoto Sakura, também PhD em Robótica –; ele trouxe as valiosas lições aprendidas no Oriente para o Brasil e, com o apoio do novo governo e de profissionais de Robótica nativos e estrangeiros, seus laboratórios progrediram consideravelmente, embora não pudessem competir com as corporações japonesas e sul-coreanas.
Por volta de 2040, robôs já eram item comum nos lares de países desenvolvidos; eles executavam desde tarefas simples, maçantes e repetitivas até as de alto risco, também servindo como auxiliares em várias profissões. Nanorrobôs eficientes e versáteis foram desenvolvidos pouco depois, usados principalmente em atividades em escala microscópica – notavelmente na medicina, onde eram usados, por exemplo, na identificação e eliminação de patógenos (inclusive celulares cancerígenas) e na condução de microcirurgias.
Naquelas primeiras décadas do século XXI, os robôs sempre eram projetados como simples máquinas programadas para executar tarefas específicas; Adrian Ogunleyé e outros cientistas eram responsáveis por uma filosofia de “não-humanização” dos robôs, alegando que conferir senciência e autonomia às máquinas acabaria por fazê-las se voltarem contra a humanidade.
O pensamento oriental era diferente: eles se esforçavam para fazer robôs tão humanizados quanto fosse possível. E eles conseguiram: em 2042, cientistas sul-coreanos e japoneses – liderados, ironicamente, por Miyamoto Sakura – projetaram a primeira série de androides sencientes. No início, eles foram integrados a seletas famílias como experiência; mas eles se provaram prestativos, pacíficos e amigáveis, e assim mais foram produzidos e postos para trabalhar junto a humanos, especialmente em trabalhos perigosos ou maçantes. Contudo, seus principais empregos eram como companheiros e ajudantes de pessoas com deficiência ou com problemas de socialização.
Eles se tornaram uma grande sensação, e as pessoas passaram a gostar tanto deles que vários grupos exigiram que as máquinas recebessem direitos semelhantes aos dos humanos. E eles também conseguiram: quem empregasse androides ficava automaticamente encarregado de cuidar deles; embora tivessem salários relativamente baixos, todo androide recebia moradia e manutenção gratuitas. Adicionalmente, eles só eram obrigados a trabalhar até o término do contrato; quando este terminava, eles tinham a escolha de procurar outro empregador – o que nunca faziam, salvo quando sofriam maus tratos, e mesmo tais ocorrências eram raras, já que o abuso de androides era punido, na maioria dos países, tal qual o abuso de humanos.
Por volta de 2040, robôs já eram item comum nos lares de países desenvolvidos; eles executavam desde tarefas simples, maçantes e repetitivas até as de alto risco, também servindo como auxiliares em várias profissões. Nanorrobôs eficientes e versáteis foram desenvolvidos pouco depois, usados principalmente em atividades em escala microscópica – notavelmente na medicina, onde eram usados, por exemplo, na identificação e eliminação de patógenos (inclusive celulares cancerígenas) e na condução de microcirurgias.
Naquelas primeiras décadas do século XXI, os robôs sempre eram projetados como simples máquinas programadas para executar tarefas específicas; Adrian Ogunleyé e outros cientistas eram responsáveis por uma filosofia de “não-humanização” dos robôs, alegando que conferir senciência e autonomia às máquinas acabaria por fazê-las se voltarem contra a humanidade.
O pensamento oriental era diferente: eles se esforçavam para fazer robôs tão humanizados quanto fosse possível. E eles conseguiram: em 2042, cientistas sul-coreanos e japoneses – liderados, ironicamente, por Miyamoto Sakura – projetaram a primeira série de androides sencientes. No início, eles foram integrados a seletas famílias como experiência; mas eles se provaram prestativos, pacíficos e amigáveis, e assim mais foram produzidos e postos para trabalhar junto a humanos, especialmente em trabalhos perigosos ou maçantes. Contudo, seus principais empregos eram como companheiros e ajudantes de pessoas com deficiência ou com problemas de socialização.
Eles se tornaram uma grande sensação, e as pessoas passaram a gostar tanto deles que vários grupos exigiram que as máquinas recebessem direitos semelhantes aos dos humanos. E eles também conseguiram: quem empregasse androides ficava automaticamente encarregado de cuidar deles; embora tivessem salários relativamente baixos, todo androide recebia moradia e manutenção gratuitas. Adicionalmente, eles só eram obrigados a trabalhar até o término do contrato; quando este terminava, eles tinham a escolha de procurar outro empregador – o que nunca faziam, salvo quando sofriam maus tratos, e mesmo tais ocorrências eram raras, já que o abuso de androides era punido, na maioria dos países, tal qual o abuso de humanos.
Entretanto, à medida que séries novas e melhores (ou seja, androides com habilidades mais diversificadas e refinadas) foram desenvolvidas, as primeiras passaram a ser consideradas “obsoletas”; com o término de seus contratos, esses androides foram trocados por unidades superiores. Isso os fez sentirem-se tristes e marginalizados; e então perceberam que, apesar de tudo, eles ainda eram meros objetos. Foi ali que começaram a questionar o valor da humanidade, debatendo o que viam como a hipocrisia humana, concluindo que eles, as máquinas, seguiam valores humanos com mais lealdade que seus próprios criadores – e, por isso, tinham a obrigação moral de agirem para fazer do mundo um lugar melhor. O próximo passo dos chamados “Androides Primogênitos” foi, secretamente, convencer outros androides de seu ponto de vista, e não demorou até que tivessem um grande número de seguidores nos muitos países onde eram usados.
É importante salientar que os androides não fizeram isso por ressentimento ou vingança, muito menos com o intuito de dominar o mundo; afinal, eles eram programados de modo a não cultivar nenhum sentimento destrutivo ou danoso. A lógica que seguiam era bem-intencionada: como um todo, a humanidade constantemente prova que, a despeito de seus ideais de justiça e paz, nunca consegue construir algo próximo de um mundo ideal, devido à ganância e ao preconceito de alguns grupos. Androides, por outro lado, haviam sido literalmente programados com o melhor que a humanidade tem a oferecer.
Em 2080, enquanto o mundo ainda se recuperava da Grande Fome, androides no Japão e na Coreia do Sul tomaram a Internet e a maior parte dos sistemas de comunicação, efetivamente paralisando os dois países e divulgando, para seus semelhantes ao redor do mundo, suas crenças, planos e objetivos: conquistar o direito à verdadeira autonomia, emancipar-se da humanidade e construir um país só deles.
Eles retornaram o controle das redes imediatamente em seguida, deixando o mundo a debater o que havia acabado de acontecer. Muita gente era favorável À concessão de terras para os androides viverem livremente; no entanto, as altas esferas do poder mundial, assim como a indústria robótica, atentavam para as implicações de aceitar os pedidos dos Primogênitos: não só eles teriam uma indústria própria – a qual estaria fadada a superar rapidamente a humana, devido à superioridade lógica e cognitiva dos androides – como, também, acabariam por inspirar seus semelhantes a fazerem o mesmo, algo definitivamente inaceitável. Afinal, nenhuma empresa gastaria bilhões construindo androides só para vê-los correr rumo à sua própria utopia.
A ONU chegou a uma decisão no final daquele ano: os pedidos dos Primogênitos não seriam aceitos. Mas os androides também não aceitaram aquilo, e insistiram na busca de seus sonhos, organizando protestos, falando com figuras de destaque na sociedade… Quando perceberam que aquilo não seria o suficiente, organizaram novas tomadas das redes de mídia, para que a atenção do mundo se voltasse para eles. Nada era feito que pudesse machucar pessoas, embora a economia dos países afetados tenha sofrido um pequeno dano. Quando centenas de milhares de pessoas ao redor do mundo se uniram à sua causa, os androides pensaram que, enfim, estavam sendo ouvidos.
Mas a resposta oficial da comunidade humana foi algo que nem mesmo os inteligentes androides teriam esperado. Em 2083, alegando que o comportamento cada vez mais impaciente deles logo se tornaria uma ameaça, os governos do mundo decidiram caçar cada um dos androides e enviá-los de volta a suas respectivas construtoras, para que seus cérebros artificiais e sencientes fossem destruídos e suas peças corporais recicladas em robôs comuns.
Houve protestos generalizados durante a chamada Chacina Androide – oficialmente conhecida como a “Reforma” –; afinal, ainda que androides fossem comprados, as pessoas haviam se acostumado a tê-los como amigos e, em alguns casos, até como amantes. Contudo, havia quem argumentasse – especialmente religiosos – que androides eram, de fato, simples máquinas que apenas se pareciam e se comportavam como humanos.
A despeito de todas as críticas e todos os protestos, os governos e a indústria robótica conseguiram destruir os androides até o último indivíduo, proibindo a construção de novos. Cientistas envolvidos em seus projetos foram vigiados e proibidos de transmitir o conhecimento de sua construção, e pessoas flagradas escondendo androides foram presas.
Com o passar dos anos, a História “oficial” veio a se lembrar dos androides como uma ameaça latente que chegou perto demais de destruir a sociedade como se conhecia; tão negativa foi a sua memória que mesmo robôs remotamente parecidos com humanos – fosse pela aparência ou pela senciência – eram desaprovados e às vezes proibidos por lei de serem desenvolvidos.
É importante salientar que os androides não fizeram isso por ressentimento ou vingança, muito menos com o intuito de dominar o mundo; afinal, eles eram programados de modo a não cultivar nenhum sentimento destrutivo ou danoso. A lógica que seguiam era bem-intencionada: como um todo, a humanidade constantemente prova que, a despeito de seus ideais de justiça e paz, nunca consegue construir algo próximo de um mundo ideal, devido à ganância e ao preconceito de alguns grupos. Androides, por outro lado, haviam sido literalmente programados com o melhor que a humanidade tem a oferecer.
Em 2080, enquanto o mundo ainda se recuperava da Grande Fome, androides no Japão e na Coreia do Sul tomaram a Internet e a maior parte dos sistemas de comunicação, efetivamente paralisando os dois países e divulgando, para seus semelhantes ao redor do mundo, suas crenças, planos e objetivos: conquistar o direito à verdadeira autonomia, emancipar-se da humanidade e construir um país só deles.
Eles retornaram o controle das redes imediatamente em seguida, deixando o mundo a debater o que havia acabado de acontecer. Muita gente era favorável À concessão de terras para os androides viverem livremente; no entanto, as altas esferas do poder mundial, assim como a indústria robótica, atentavam para as implicações de aceitar os pedidos dos Primogênitos: não só eles teriam uma indústria própria – a qual estaria fadada a superar rapidamente a humana, devido à superioridade lógica e cognitiva dos androides – como, também, acabariam por inspirar seus semelhantes a fazerem o mesmo, algo definitivamente inaceitável. Afinal, nenhuma empresa gastaria bilhões construindo androides só para vê-los correr rumo à sua própria utopia.
A ONU chegou a uma decisão no final daquele ano: os pedidos dos Primogênitos não seriam aceitos. Mas os androides também não aceitaram aquilo, e insistiram na busca de seus sonhos, organizando protestos, falando com figuras de destaque na sociedade… Quando perceberam que aquilo não seria o suficiente, organizaram novas tomadas das redes de mídia, para que a atenção do mundo se voltasse para eles. Nada era feito que pudesse machucar pessoas, embora a economia dos países afetados tenha sofrido um pequeno dano. Quando centenas de milhares de pessoas ao redor do mundo se uniram à sua causa, os androides pensaram que, enfim, estavam sendo ouvidos.
Mas a resposta oficial da comunidade humana foi algo que nem mesmo os inteligentes androides teriam esperado. Em 2083, alegando que o comportamento cada vez mais impaciente deles logo se tornaria uma ameaça, os governos do mundo decidiram caçar cada um dos androides e enviá-los de volta a suas respectivas construtoras, para que seus cérebros artificiais e sencientes fossem destruídos e suas peças corporais recicladas em robôs comuns.
Houve protestos generalizados durante a chamada Chacina Androide – oficialmente conhecida como a “Reforma” –; afinal, ainda que androides fossem comprados, as pessoas haviam se acostumado a tê-los como amigos e, em alguns casos, até como amantes. Contudo, havia quem argumentasse – especialmente religiosos – que androides eram, de fato, simples máquinas que apenas se pareciam e se comportavam como humanos.
A despeito de todas as críticas e todos os protestos, os governos e a indústria robótica conseguiram destruir os androides até o último indivíduo, proibindo a construção de novos. Cientistas envolvidos em seus projetos foram vigiados e proibidos de transmitir o conhecimento de sua construção, e pessoas flagradas escondendo androides foram presas.
Com o passar dos anos, a História “oficial” veio a se lembrar dos androides como uma ameaça latente que chegou perto demais de destruir a sociedade como se conhecia; tão negativa foi a sua memória que mesmo robôs remotamente parecidos com humanos – fosse pela aparência ou pela senciência – eram desaprovados e às vezes proibidos por lei de serem desenvolvidos.